Painless Small Martydoms
2012
A quantas amarras, costuras e maltratos, autorizados ou não, não estamos submetidos? Feitos a partir de fotos do meu corpo, essas pequenas figuras são utilizadas de diferentes formas em situações de desconforto que contrastam com a tranquilidade de suas posições.
How many moorings, seams and abuse, whether authorized or not, aren't we submitted? Made from photos of my body, these little figures are used in different ways in non confortable situations that contrast with the calmness of their positions.

Sem título, 2012. Caneta e café sobre papel manteiga. 30 cm x 21 cm

Pequenos Martírios Indolores 
Flávio Gonçalves

Os trabalhos de Louise Kanefuku mostram pequenas figuras recortadas em frágeis folhas de papel translúcido, manipuláveis e multiplicáveis como um signo. São imagens delineadas, mas precisas no pouco de informação que carregam. Essa economia no traço permite que elas sejam arranjadas em diagramas tortuosos que lembram martírios e punições, segundo a artista. A delicadeza com que as imagens são tratadas, a sutil variação entre uma figura e outra não nos permite pensar em uma mera ação de replicar. Cada conjunto é um momento único, o que nos remete à multiplicidade de sensações e sentimentos que nos constitui (e que faz com que nos saibamos múltiplos também).

As ações sobre a imagem nua e inerte são próprias do desenho e da linguagem gráfica que inscreve, recorta, transfere, multiplica e apaga. Em geral essas ações determinam um objetivo outro que elas mesmas. Nos trabalhos de Louise todas essas ações estão direcionadas à figura (a própria figura da artista), e por isso ganham em importância e significado. Como num desenho contínuo na própria pele, a identidade exposta da artista experimenta os limites da exaustão de seu próprio sentido.

“O homem é um signo”, nos afirma a semiótica. E tudo mais que queiram que ele seja. Como signo ele vive o paradoxo de ser o sujeito da significação e de buscar constantemente um sentido para si e para o mundo em que vive. Ser signo não significa conhecer-se, pois somos transformados constantemente (e também esquecemos). A proximidade apaga a distância que estabelece o que possa significar conhecermo-nos. A representação reconstitui esse elo, e um pouco do que sofre a imagem passamos a sofrer também.

(Texto curatorial do Prof. Dr. Flávio Gonçalves para a exposição “Pequenos Martírios Indolores”. Publicado em: www.chicolisboa.com.br, no dia 30 de junho do 2013.)

Sem título, 2012. Grafite, caneta e café sobre papéis diversos. 42 cm x 30 cm

Sem título, 2012. Grafite, caneta, café e fita hipoalergênica sobre papel manteiga e vegetal. 30 cm x 21 cm

Sem título, 2012. Caneta, linha e café sobre papel manteiga e Canson Vivaldi. 23,5 cm x 21,5 cm

Detalhe de Sem título, 2013. Livro de Artista. Linha, caneta, grafite, fita hipoalergência e papéis variados em seis volumes da Enciclopédia Barsa.

Sem título, 2014. Grafite, linha e café em papel japonês, vegetal, pólen e manteiga. 27 x 40 cm

Sem título, 2014. Café, grafite sobre papel manteiga e vegetal. 55 x 26 cm

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